A FERIDA INVISÍVEL
O abuso sexual é definido como todo ato ou jogo sexual, relação hetero ou homossexual, cujo agressor esteja em estágio de desenvolvimento psicossexual mais adiantado que a criança ou o adolescente. Tem por finalidade estimulá-la sexualmente ou utilizá-la para obter estimulação sexual. Essas práticas eróticas e sexuais são impostas às crianças ou aos adolescentes por violência física, ameaça ou indução de sua vontade. Pode variar desde atos em que não existam contatos físicos, mas que evolvem o corpo (assédio, voyeurismo, exibicionismo), a diferentes tipos de atos com contato físico, sem penetração (sexo oral, intercurso interfemural) ou com penetração (digital, com objetos, intercurso genital ou anal). Engloba, ainda, a situação de exploração sexual visando ao lucro, como a prostituição e a pornografia.
Entre adultos, podemos considerar uma definição mais simples, no qual o abuso sexual é definido como todo relacionamento interpessoal aonde a sexualidade é veiculada sem o consentimento válido de uma das pessoas envolvidas.
A maioria dos autores ainda sugere que deva haver uma diferença de idade de quatro ou cinco anos ou mais entre a vítima e o abusador, quando a criança é menor de doze anos. E no caso de adolescentes entre treze e dezesseis anos, a diferença deve ser de dez anos ou mais. Todavia, o uso de força, intimidação ou abuso da autoridade, deverá ser considerado sempre uma conduta abusiva independente da diferença de idade.
Com relação ao incesto entre irmãos, há que se considerar também a diferença de idade. Um irmão bem mais velho que a vítima pode estar em uma posição parental, e o mais novo em uma posição de dependência e imaturidade, o que caracterizaria um abuso. O mesmo se aplica às brincadeiras sexuais entre amigos de idades próximas na infância ou adolescência.
Cabe aqui frisar que nem sempre o abuso sexual envolve violência física. Sempre que uma parte induz a outra a aceitar ou ao menos não se opor a um ato sexualizado pelo convencimento no qual utiliza seu poder na relação, já se caracteriza um abuso. Outra situação de indução pode ocorrer através da sedução como sendo abusiva quando envolve uma interação em que uma pessoa estimula sentimentos e sensações sexuais na outra, que consente com o ato, pois também se encontra sexualmente estimulada, no entanto em um tipo de relacionamento em que “a erotização do vínculo consiste no próprio abuso”. Uma mãe que erotiza seu vínculo com o filho, por ex., mesmo que através de um olhar, está sendo abusiva.
Os abusos sexuais podem ser intrafamiliares ou incestuosos (quando o agressor é membro da família nuclear ou de origem) e extrafamiliares (conhecidos da família, amigos ou desconhecidos). No entanto, de acordo com Habigzang e Caminha), a maioria dos estudos mostra que grande parte dos abusos sexuais contra a infância e adolescência são cometidos por pessoas muito próximas, dentro do ambiente familiar e que têm papel de cuidador em relação à vítima.
A maior parte dos abusos sexuais são intrafamiliares e os principais abusadores são o pai e o padrasto,citam várias pesquisas que apontam que um quarto das meninas e um oitavo dos meninos são vítimas de abuso sexual antes dos dezoito anos . Na maioria dos casos idade em que os abusos começam se encontra entre cinco e oito anos e a mãe é a pessoa que as vítimas mais procuram por ajuda ou para a revelação, a qual normalmente acontece mais de um ano depois do início do abuso. No entanto, esses podem ser dados desonestos devido à subnotificação e devido à dificuldade de identificação gerada pela falta de preparo dos profissionais envolvidos no assunto.