Fatores agravantes
Os efeitos do abuso sexual podem se manifestar de várias formas, várias intensidades e podem se manifestar em qualquer idade. Algumas crianças apresentam sintomas graves enquanto outras apresentam somente efeitos míninos. Em alguns casos os sintomas aparecem desde o início do episódio abusivo, mas é possível também que os sintomas apareçam somente após algum tempo (meses ou anos), normalmente engatilhado por algum evento posterior que traga o abuso à memória consciente ou inconsciente. McGregor (2001) chama esses efeitos de “efeitos adormecidos” (p. 7).
De acordo com Furniss (1993) são sete os fatores que mais provavelmente fazem a diferença no dano psicológico do abuso sexual na criança:
A idade de início do abuso sexual;
Quanto tempo durou o abuso (se episódico ou crônico);
O grau de violência ou ameaças utilizadas no abuso;
A diferença de idade entre o perpetrador e a vítima;
O grau de vinculação entre o abusador e o abusado;
O apoio recebido pelas figuras parentais e apoio social;
O grau de segredo envolvendo o abuso.
Habigzang e Caminha (2004) também citam como possíveis
fatores a saúde emocional anterior da criança, o tipo de
atividade sexual cometida, a reação dos adultos após a revelação da criança e a dissolução da família decorrente da descoberta, nos casos de abuso sexual intrafamiliar.
McGregor (2001) inclui ainda outras condições prejudiciais, como contato constante com o abusador, incluindo tensão e medo constantes de que o abuso vai se repetir; ter sido seduzido a aceitar o assédio e o abuso, o que traz sentimento de culpa posterior; vários abusadores e abusos; sadismo explícito envolvido no abuso; coexistência de abuso emocional ou físico e impossibilidade de evitar o abuso de irmãos.
Outro fator de grande importância para os possíveis danos emocionais é a vulnerabilidade pessoal da criança abusada.
Algumas pessoas possuem uma hiper-reatividade fisiológica em face de demandas psicossociais, a qual pode ser gerada por uma hipersensibilidade do sistema límbico. Tal hiperatividade resulta na produção excessiva de catecolaminas, testosterona e cortisol, o que tornaria essas pessoas mais vulneráveis ao stress.
Além dos danos psiquiátricos e dos danos no nível básico de formação do psiquismo, há também pesquisas que mostram alterações cerebrais em resposta a um quadro de abuso crônico. Teicher (2001) em seu estudo sobre os efeitos do abuso na neurobiologia infantil, cita várias pesquisas que trazem evidência claras de que a exposição precoce a um alto nível de stress como as crianças vítimas de abuso vivem, pode provocar alterações cerebrais permanentes. Alguns autores explicam essa mudança como se o stress fosse um agente ‘tóxico’ que altera o desenvolvimento cerebral da criança exposta a ele precocemente. Teicher prefere a explicação de que as mudanças observadas na formação do cérebro destas vítimas sejam uma forma adaptativa “que prepara o cérebro adulto a sobreviver e a se reproduzir num mundo perigoso.”
Quando pensamos no legado da violência sexual, é importante salientar a enormidade do impacto que o abuso incestuoso traz para a vida de suas vítimas, em comparação com os outros tipos de abuso sexual. Nas palavras de Forward & Buck:
O incesto é poderoso. Sua devastação é maior do que a das violências sexuais não incestuosas contra a criança, porque o incesto se insere nas constelações das emoções e dos conflitos familiares. Não há um estranho de que se possa fugir, não há uma casa para onde se possa escapar. A criança não se sente mais segura nem mesmo em sua própria cama. A vítima é obrigada a aprender a conviver com o incesto; ele abala a totalidade do mundo da criança. O agressor está sempre presente e o incesto é quase sempre um horror contínuo para a vítima .