VÍTIMAS FEMININAS
Mulheres sobreviventes de abuso sexual na infância
experienciam uma gama de disfunções sexuais, incluindo
falta ou diminuição de desejo, dificuldades de lubrificação,
anorgasmia e vaginismo. Muitas também vivenciam
‘flashbacks’ da situação de abuso durante a interação
sexual (. As mulheres vítimas de abuso podem ter medo
de se ver como atraentes, femininas e saudavelmente
sexualizadas. Isso pode trazer problemas na aceitação
delas como mulheres. Podem rejeitar sua feminilidade,
inclusive tentando evitá-la ganhando ou perdendo muito
peso, para não serem vistas como atraentes.
Nos homens com história de abuso na infância, as disfunções sexuais mais encontradas são ejaculação precoce, disfunção erétil e diminuição de desejo. Também são comuns excessivas queixas urogenitais e fortes impulsos sexuais na forma de masturbação compulsiva e comportamento e linguagem erotizados em lugares inadequados. Homens sobreviventes de abuso também relataram a erotização da dor e a inclusão de experiências dolorosas em seu repertório sexual.
Em uma pesquisa científica que comparava mulheres vítimas de abuso na infância com mulheres não abusadas encontrou resultados significativos: as participantes abusadas eram mais preocupadas com sexo, iniciaram sua vida sexual mais precocemente, eram mais propícias a engravidar na adolescência e se engajavam menos em métodos de controle de natalidade, apresentando maior comportamento sexual de risco e múltiplos parceiros. Esses comportamentos como resultantes da hipersexualização e de fatores psicológicos, incluindo tentativas de resgatar auto-estima, atenção e sensação de poder e controle e uma habilidade rebaixada de resistir a uma solicitação sexual.
Além disso, é fato que as mulheres vítimas de abuso têm afetada sua habilidade de se proteger e de preservar sua saúde sexual por conta dos sentimentos de vergonha e vulnerabilidade trazidas pelas intervenções ginecológicas . Uma alta prevalência de abuso sexual na infância de profissionais do sexo, tanto masculinos quanto femininos. Pesquisas indicam ainda que abuso incestuoso perpretado pelo pai biológico pode estar associado à maior aversão e ambivalência sexual .
Para estas pessoas, a excitação sexual que muitas vezes é uma forma natural de resposta do corpo a uma estimulação quando do abuso, é muito difícil de integrar e compreender, levando-as a associar excitação como algo ruim. O dano que isso provoca é imenso, pois altera toda excitação sexual futura que possam experimentar, mesmo que dentro de um relacionamento amoroso e saudável. Tal confusão cria conflitos internos que muitas vezes impossibilita às vítimas de gozar do prazer que o contato sexual deveria trazer. Estas pessoas têm roubadas as emoções naturais em mais poderosas que o corpo humano foi desenhado para experimentar, rejeitando suas sensações, seus corpos e encontrando formas de evitar sensações sexuais, normalmente bloqueando senão todas, as mais intensas sensações durante o ato sexual.
Muitas mulheres sentem vergonha de sua sexualidade porque não lhes foi permitido desenvolvê-la como uma expressão de amor. E, no entanto, a sexualidade é uma expressão de amor, um desejo de estar próximo e unido com outra pessoa. Infelizmente, esse amor é geralmente misturado com seu oposto.
Tal bloqueio pode se instalar também através da dissociação entre afeto e sexualidade, levando as vítimas a tratar seus corpos de forma perigosa, através de compulsão sexual, ou simplesmente procurando contato sexual desconectado de relacionamentos amorosos, ou ‘vendendo’ seus corpos anestesiados pelo abuso em troca de algum carinho.
Outro aspecto da sexualidade comumente encontrado entre abusados na prática clínica é a tendência ao sexo violento ou ao sexo sadomasoquista. O abusado pode assumir a posição sádica, aonde o que excita é o sentimento de poder sobre o outro, vivenciando assim uma troca de papéis em relação ao abuso vivido (este aspecto é mais observado nos homens). Ou pode assumir a posição masoquista ou de submissão, que remove temporariamente a culpa que bloqueia a entrega sexual (mais observado entre as mulheres).
Compulsão sexual
Pode ser difícil compreender como uma pessoa que tenha vivido uma ou várias situações de violência relacionada à sexualidade pode desenvolver um comportamento hipersexualizado ou uma compulsão sexual, quando o esperado seria que gerasse uma aversão. Nestes casos deve-se lembrar que tais pessoas provavelmente apresentam uma cisão em suas personalidades, desenvolvendo assim uma sexualidade superficial, assim como outros sentimentos.
A vítima de abuso sexual pode corporificar a sexualidade sem ser uma pessoa sexual, representando um papel sexual sem estar integrada com ele num nível adulto. Estas pessoas mostram uma máscara de pessoa adulta, sexualizada e sofisticada, mas por trás escondem uma criança aterrorizada e enraivecida pela violência sofrida e seus atos sexuais são meras performances, não uma entrega ao amor. Há uma aparente liberdade em seu comportamento sexual, mas tal liberdade é somente externa e não interna: “uma liberdade para agir, mas não para sentir.”
Em um estudo sobre compusão sexual encontrou números altamente significativos que a relacionam ao abuso sexual na infância: 81 por cento dos dependentes sexuais reportaram terem sido abusados quando crianças. O número de relato de abusos emocionais também foi grande (97 por cento), levando o autor a pensar na hipótese de que a coexistência dos dois tipos de abuso tragam uma probabilidade maior de um indivíduo desenvolver a compulsão sexual. Ele conceitua a dependência sexual como uma obsessão com o sexo trazendo um descontrole sexual que chega a ameaçar a própria existência. Estas pessoas fazem do sexo sua razão de viver, o que traz complicações significativas para a própria saúde física e emocional, além de trazer dificuldades no estabelecimento de relacionamentos duradouros.
A compulsão sexual também pode aparecer na forma fantasiosa: o indivíduo não tem contato sexual real com parceiros, mas passa uma boa parte do seu dia fantasiando relações sexuais ou se masturbando compulsivamente com ou sem o uso de pornografia. Um dos tipo de abuso descrito por Carnes (1991), e que este acredita estar relacionado com a dependência sexual fantasiosa é o chamado incesto oculto. O incesto oculto ocorre quando um dos pais provoca a sexualidade da criança sem chegar a ter um contato físico sexual com ela, apresentando algum comportamento impróprio que gera uma influência erótica nociva.
Alguns exemplos de incesto oculto podem ser: uma menina que cresce em um ambiente familiar cercada de muita sexualidade, como por exemplo tios ou outros parentes que ficam fazendo comentários sobre seu aspecto físico,‘brincam’ de abraçar, ou fazem cócegas em áreas sensualizadas, ou tocam nas áreas próximas ao seio, etc; um menino que cresceu ouvindo as fantasias sexuais da mãe desde pequeno, sentindo-se excitado sem ter escape para tal excitação; ou o pai que conversa sobre o crescimento dos seio de sua filha pré-púrbere para se excitar. A filha se sente incomodada e faz o possível para mudar de assunto, mas o pai insiste. Ele não chega a tocá-la, mas a atençaõ ao desenvolvimento físico explora sua vulnerabilidade.